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21 de maio de 2011

PARECE QUE FOI ONTEM


Parece que foi ontem, quando resolvi deixar a vida calma e tranqüila do sítio, para me aventurar num sonho novo e desconhecido. Sem muitas perguntas, deixei meu canto, meus pais e meus irmãos nas lágrimas e comecei perseguir uma voz que me incomodava. 
  O tempo foi passando e o desconhecido foi se tornando conhecido, cada dia, cada noite, cada lágrima, cada riso, cada conquista e cada derrota, nada mais me valeria senão completasse o caminho.
A estrada de antes e a rodovia de hoje troquei pelos trilhos e trilhas, estradas e céu que me levavam ao sonho do menino pobre do sítio.
O tempo foi norteando a vida e a vida foi delineando as opções e as opções foram sangrando e restituindo as perdas. Mas apesar de tudo, sempre valeu a pena  conquistar o sonho que me trocar o sítio pelos livros. O sonho que me fez não ser de ninguém e ser de todos. O sonho que não me preso a alguém, mas livre para todos. O sonho que me quis pastor de ovelhas. Mas sonhos sempre me deixaram claro sobre as renuncias e sobre as perseguições. Nunca tive medo do que sou, mas tremi quando pensei em não aceitar o que sou.
No curto tempo de 10 anos, o sonho se realizava e menino pobre do sítio, de pés descalço, de apenas um par de sapatos, de roupas sujas por arrastar-se atrás de carrinhos, de timidez acentuava se tornava padre. O que mudou? Não sei lhes dizer, mas posso afirmar o que não mudou; o padre continua  humano, chorão, corajoso, humilde, simples e convicto do sonho que se realizou em mim.
Não sou o mais santo, mas tive a coragem de muitos que se acovardaram. Encaro o sacerdócio como serviço, oferta, entrega. Pra mim só existe o peso das estolas que descem sobre meus braços lembrando do meu ofício e do que sacramentalmente está realizado em mim e o que devo ser para todos.
No dia que a Maria Aparecida e o Antonio José me trouxeram ao mundo nunca imaginaram o filho eu seria, mas certamente  são felizes por oferecer um filho padre para muitos.

Obrigado a todos vocês que me alegraram com e-mails, mensagem SMS, ligações etc. um carinho especial a minhas ovelhas da paróquia São Miguel Arcanjo, pela demonstração de carinho e amizade por este dia, confesso-lhes que fiquei surpreso ao ver tanta gente.
É minha gente a voz do sítio, nunca deixou de pronunciar meu nome. E hoje o que faço e pronunciar o nome Daquele que continua me chamando e pedindo CORAGEM.
O padre ama e se necessário dá a vida por vocês....

7 de maio de 2011

EMAÚS: RESGATE PARA A VIDA

Acredito que a maioria já leu, ou escutou no Evangelho, alguns dias após a Páscoa a Leitura dos Discípulos de Emaus.
Pra quem não se lembra; dois discípulos iam de Jerusalém para Emaus, uma pequena aldeia cerca de 11 KM de distância. Iam falando tudo o que havia acontecido na vida deles nos últimos dias. Jesus se colocou no meio deles sem que eles o reconhecessem e quis saber do que falavam. Eles ficaram indignados por Jesus ser o único a não saber sobre o ocorrido naqueles dias. Eles estavam como que cegos. Relataram para Jesus todo o fato. Jesus por sua vez revelou as Escrituras, faz ua pedagogia da fé, assim como Moisés o fizerá no deserto.Numa determinada altura do caminho Jesus fez que iria para outro lugar, mais eles insistiram e pediram que Jesus ficassem com eles. No partir do pão eles reconheceram Jesus e perceberam que quando Jesus lhes falava, lhes ardia o coração.
O que isso nos ensina? Muitas coisas. Acredito que todos nós deveríamos também fazer nossa caminhada até Emaus, que na verdade é um grande resgate da vida.
Pois acima de tudo ela significa rever nossa própria vida e tudo aquilo o que somos e que fazemos. Das nossas decepções com as pessoas, com as coisas e com o mundo. Toda a nossa frustração diante daquilo que tanto depositamos nossa confiança. Sair de Jerusalém é sair do nosso mundinho cercado de mentiras e comodismo para ir ao encontro daquilo que também existe dentro de nós, ou seja, a Emaús. Só que com o tempo vai nos cegando e ocultando a verdade. Na correria do nosso dia a dia vamos esquecendo da nossa própria capacidade de acreditar em nós e as vezes nas pessoas, pensando que tudo é uma grande farsa.
Sempre que faço minha caminhada no fim da tarde, vou revendo a minha vida, o meu dia, vou falando comigo mesmo e também escuto a mim mesmo. Parece estranho, mais a dinâmica da vida é assim. Sempre me vejo como eu sou, como os outros pensam e como devo ser diante das mais diversas situações que a vida apresenta. Penso no ideal e nas ilusões. Na razão e na emoção. O que mais me alegra é saber que Jesus caminha comigo e sempre me ajuda a ver a verdade.Não permitindo mergulhar as mentiras e na cegueira.
É só no caminho de Emaus(revisão de vida) que percebemos as bobagens que fazemos, as pessoas que magoamos e o que deveríamos fazer e não fizemos. Por que isso? Por que é o momento que nos encontramos conosco mesmo. Mais é preciso ter a coragem de deixar a cegueira de lado para conseguir na caminhada rumo a Emaús rever a vida, ter a certeza de que muitas coisas boas já aconteceram e muitas vezes as mentiras e a própria cegueira nos impedem de ver.
Caminhar até Emaús não é  uma demonstração de fulga dos problemas e das frustrações. Mas a coragem e a atitude de que sempre encontremos Jesus nos fazendo pensar e acreditar que nos caminhos da vida, quando o nosso coração arder significa que Deus está agindo na nossa vida, e revelando aquilo que os nossos olhos estão cegos e não podem enxergar.
postado em 17/01/2011