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13 de maio de 2012

No seu ventre; a divina vida

Hoje peço sua permissão para partilhar minha vida, minha história. Permita-me entrar na sua vida e assim nossas histórias se encontrarem e quem sabe até se coincidirem. Esta noite revendo fotos e ouvindo algumas músicas, na companhia de um frio que tocou no fundo de minha alma, foi inevitável, voltei a ser criança.
Lembrei de uma criança, de um tempo. Pelo que se fala, era a mais franzina de uma família de 9 irmãos. Já moça nunca saíra do aconchego e da rudez de seus pais. Moça menina se aventurou na vida e numa noite acordara mulher. A vida no sítio era difícil, exigente, como já lhes falei. Menina, moça, mulher e mãe. O tempo parece ter se ido veloz e chegou à família. Em 5 anos já éramos 3 irmãos. Enquanto papai passava o dia todo na labuta da roça, mamãe cuidava da casa com poucos recursos, de utensílios simples, pouca experiência na vida que lhe fizera tão responsável. Nesta noite aqui em meu quarto, onde tudo parece grande, passageiro, onde senti uma vontade enorme do carinho de mãe, daquela cama que nos abrigávamos como seu santo ventre que nos abrigou por primeiro.
Mãe é assim, se faz forte em nossa fraqueza, se faz valente em nossa covardia, sofre com nossas mais simples dores, nos carrega no colo quando criança sem cobrar nada. Continua nos carregando no colo por conta de nossas estripulias quando nos ferimos. Mãe que troca suas noites de descanso e sono pelos nossos mais banais medos e pelas nossas mais egocêntricas ausências.
Mãe debruçada numa bica d’água ou num taque de pedra misturando a pureza da água com o duro suor de seu rosto para lavar as nossas sujas de diversão. Mãe de mãos queimadas e atrofiadas pelo peso de um ferro a brasa. Mãos atrofiadas, mas que nunca perdem a medida e o sabor de uma comida e de um café feito logo pela madrugada num fogão a lenha. Mãos atrofiadas, mas que são alento e remédio para qualquer receita. Mãos atrofiadas que conhecemos quanto elas tampam nossos olhos e nós dizemos: É Minha Mãe. Mãos atrofiadas que um dia foram as primeiras as nos segurar e misturar seu choro com o nosso. Mãos atrofiadas que não negam bênçãos, que beijamos como forma de agradecimento. Mãe que consola nosso choro  e enxuga nossas lágrimas, para depois chorar no seu canto, na sua solidão sem que exista alguém para acolher suas lágrimas.
O tempo passou e hoje seu rosto, suas mãos, seu porte se modificou. Entendo que eu sou também um grande responsável por esta mudança, ao precisar durante tantos anos de Ti mulher. Nas muitas vezes gostar apenas da sua utilidade, das vezes que apenas precisei de ti, das vezes que para mim foi apenas uma servidora. Mulher ao olhar para esta imagem tão preciosa na minha vida, imagino os tantos  não têm mais essa presença viva em seu meio. Digo das Mães que cumpriram sua missão entre nós. Viver sem mãe é viver sem a metade de nosso eu. É ficar sem referência, é sentir saudades na ausência de quem esteve presente em todos os instantes. E neste dia dedicado as mães acender sua vela, para que a claridade de mãe resplandeça lá do céu e oriente suas vidas.
Hoje mulher nesta noite de inversão de idades e de utilidades, onde voltei a ser criança, mas sem tua presença. É  justamente no homem que sou hoje, que reconheço que ao não querer precisar mais de Ti, vejo em Ti não mais a mulher, mais a Mãe, que tantas vezes meu egoísmo roubou de mim, cegando meus olhos para mãe e revelando apenas uma mulher que estava sempre ao meu serviço.
 Nesta noite que escrevo, nesta solidão e carência de mãe, de um homem que por minutos vi a vida lhe fazer criança novamente. Nesta noite mãe que percebo quantas noites passeio ao seu lado, mas a vendo apenas como mulher, é inevitável conter as lágrimas e chorar. Porém a grande diferença é que hoje não tenho aqui e agora a mãe para enxugar minhas lágrimas e consolar meu choro.
Minha mãe, como és preciosa em nossa vida. Obrigado minha mãe.