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1 de agosto de 2012

Gente olhando Gente

Como é curioso entrar numa estação seja de trem, metrô, ônibus e ali fazer a experiência de olhares. Estive por algumas vezes dentro da pequena estação de ônibus circular de minha pequena cidade, que aqui nós a chamamos de terminal de integração. Por alguns minutos pude contemplar gestos, rostos, olhares. Como nos deixamos envolver por aquilo que alguém ainda que desconhecido esteja nos permitindo conhecer. Olho e flagro alguém olhando no relógio revelando preocupação, talvez atraso. Continuo olhando descubro olhares felizes, de alguém que simplesmente ali como eu não, não tinha nenhuma obrigação com aquele dia senão a de viver, apenas viver. Olho para a outra extremidade da estação e eis ali um homem, como era de manhã, talvez tenha passado a noite toda no trabalho, ou talvez ela fosse começar, seja como for, ele bocejava muito, o que me fez bocejar também. Fecho os olhos e viajo num dos ônibus que havia acabado de partir, sem preocupação de saber sua rota. Dentro dele sonhos, decepções, preocupações. Gente que dorme gente que se fala gente que se desconfia, gente que se olha, mas não se deixa conhecer, gente que olha pra fora do ônibus tentando buscar lá não sei o que, mas continua buscando. Gente que desce no seu ponto e que não sei seu destino. Desço junto para tentar descobrir algo, mas não consigo. Resolvo voltar à estação. Na volta um casal de jovens trocam carinhos e carícias. Não sei aonde se conheceram talvez naquela estação de correria, de olhares perdidos, ou talvez, na busca dos olhares fora do ônibus alguém encontrou alguém. De volta à estação continuo minha busca. Olho pra gente que me olha, entre um olhar e outro, alguns acabam se fixando mais em mim. Outros me ignoram, outros me procuram. Não me deixo vencer por eles, prefiro olhar, mas não controlo o que me olha, não controlo o que pensam a meu respeito, mas tenho o poder de pôr limites. Fico imaginando quantas pessoas já se conheceram naquela estação. Quantas já se amaram quantas já se odiaram, quantas que ali passaram e hoje não passam mais. Quantas histórias iniciadas, cruzadas, terminadas. Na agitação entre pessoas, poucos se deixam perceber, poucos se olham e se reconhecem como irmãos. Continuo com os meus olhares, mesmo quando esbarrado por um homem que se vira e pede desculpas, com um riso digo que não foi nada. Ele não desiste se volta para mim e me pergunta se tal ônibus já havia passado. Senti-me inútil. E me vi agora na necessidade de me desculpar, pois havia me entretido com os olhares que não olhei para os ônibus e não podia ajudar aquele homem que revelava uma pressa sem igual. Engraçado. No meio de tanta gente ele fora perguntar justamente para mim que não podia lhe ajudar. Mas rapidamente a senhora que estava ao meu lado e que ouvira a pergunta pode lhe dar a resposta. Foi então que percebi que naquele terminal alguns se olham, outros apenas ficam observando as chegadas e partidas dos ônibus.
Na vida não é diferente enquanto alguns vivem e se amam outros apenas observam as chegadas e as partidas dos dias como se mais nada lhes restassem a não ser deixar os dias passem por eles, mas outros que amam a vida esgotam tudo aquilo que os dias lhes oferecem em busca do amor mesmo que seja através de simples olhares.