Em nossa vida passamos por fases durante o ano, como a lua, embora ela tenha apenas quatro fases, ao passo que nós temos a oportunidade de ter infinitas fases. Ao parar todos os dias, dias cansativos, dias tristes, dias de risos, dias de lágrimas, dias de desespero, dias de abandono, fases infinitas de um homem e um dia finito. Isto nos acontece o ano todo, momentos intercalados de infinitas fases da vida.
Como é maravilhoso chegar ao final do dia, e perceber como o infinito das fases marcaram nosso dia. Como é bom chegar ao topo de um dia, retornar para dentro de si e fazer nascer ali à experiência do infinito, recorrer ao nosso canto, ao nosso jeito, ao nosso mais puro ser que não se deixou corromper pelo desânimo, pelas alternâncias das fases de um dia.
Como é bom olhar nosso quarto, nossa cama e saber que ali repousará um corpo cansado, finito, que traz dentro de si a transcendência ao infinito. Olhos abertos que se fecharão ao apagar das luzes e no desmaiar da consciência. Como é bom colocar nossa cabeça no travesseiro que tem como função apenas isso: manter-nos de cabeça erguida, mesmo quando estamos deitados. Confesso-lhes que o meu quarto é o meu mundo. De um lado uma pequena estante de livros onde recorro quando necessário. Minha cama é o mistério que me convida morrer e nascer todos os dias. É neste canto de fases infinitas que cumpro meus dias finitos. Neste canto de realização infinita que renovo com o finito a chance de ser melhor. Como é bom ter nosso canto. Onde cada canto esconde um conto. E cada conto traz um segredo que nem mesmo a gente conhece. Como é bom proteger nossa vida infinita quando tantos querem fazê-la vida finita. Como é bom ser o que sou. Amar quem eu amo. Perdoar quem nunca exige de mim um perdão. Olhar fora do quarto e ver um mundo infinito de pessoas vivendo em função do finito. Saber que existem pessoas finitas invejosas ao nosso lado que talvez não tenham a capacidade e a coragem de entrar nas fases infinitas da vida, sobrando-lhes assim o pequeno pedaço finito da vida.
Como é bom estar no meu quarto finito, onde faço experiências infinitas. Como é bom olhar para uma mesa e ver o celular avisando que existem mensagens, ligações. Pessoas que venceram distâncias sem mesmo saírem dos seus lugares, mas que infinitamente estão ali no meu canto. Chegaram sem avisar de maneiras estranhas, com palavras finitas, mas que se alojaram no meu infinito. Como é bom ser lembrado por alguém. Como é bom relacionarmos através do infinito, de canto para canto, de quarto para quarto. De olhar para olhar. De palavras a palavras.
Como é bom viajar nas palavras sem compromisso de acertar a direção, de agradar alguém. Como é bom ser bom. Como é bom ter fases na vida, elas nos tiram do comodismo, nos arranca SIM e nós ensina a falar NÃO. Traz-nos choro, que na última lágrima, abre o sorriso provocado pela presença e palavra de alguém que nos confortou.
É no meu canto finito de fases infinitas que acredito num mundo melhor, numa vida justa, partilhada, concretamente começada por mim. São nas contradições das fases infinitas que vou cumprindo minha felicidade no mundo finito. De ser um homem finito que não se deu ao luxo de vegetar e se acomodar na segurança garantida de uma vida infinita. De um homem que fases infinitas da vida são bem-vindas. Da mesma forma que quando mais esgota meu finito, me aproximo do meu ser infinito.
Renato Gonçalves