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12 de janeiro de 2011

DEVOLUÇÃO GRATUITA

Na minha vida faço esforço contrário de me ver como as pessoas me vêem. Entendo que seja muito fácil criticar, sem nada oferecer em troca. É muito fácil cobrar, sem mostrar o como fazer. Falo isso porque em vários momentos somos espelhos para as pessoas. Algumas projetam em mim desejos que nunca tive, algumas preferem encontrar problemas sem mesmo que estes existam. Talvez pelo simples fato de não aceitarem em mim o que eu aceitei. Algumas julgam sem mesmo terem certeza. Outras dão opinião sem mesmo que tenha pedido. Alguém que se policia em não trair seus ideais, mesmo que alguns estejam tão distantes. Mesmo que alguns se pareçam tão utópicos. Mas eles são meus e de muitos, eles são motivo e razão de ser o que sou. Nunca tive vergonha da minha vida. Mesmo quando ela foi  sofrida, difícil, quando criança, nas perdas. Sei que existem pessoas que vivem disto; querem cuidar da vida dos outros. Sei que existem pessoas que fariam de tudo para não cumprir meus ideais. Sei que existem pessoas ao meu lado interesseiras. Sei que não posso abraçar a todos, pois muitos não querem devolver meu abraço. Sei que muitos querem exclusividade de alguém que há muito tempo deixou o convívio constante da família, dos amigos para ser livre, feliz, realizado.
Sei também que tenho pessoas maravilhosas ao meu lado, pessoas aquém acredito que sempre estão me apoiando no que faço. Pessoas que simplesmente com seu riso, com seu silêncio me acolhem no aconchego de seu canto, do canto do coração. Pessoas que nunca quiseram de mim além do que não posso oferecer. Pessoas sem estudos, sem faculdades, sem discursos. Pessoas de abraços gratuitos, de beijos paternos, maternos, sinceros. Pessoas conscientes da devolução dos meus abraços, pois sabem que existem muitas outras pessoas que esperam por ele. Pessoas que passaram algumas vezes, mas que eternizaram as passagens. Pessoas que nunca cobram, porque a sua gratuidade ensinou a ofertar mais do que cobrar. Sei que estas pessoas não precisam de mim e nem querem que eu precise delas. Mas juntos doamos parte de nós. E assim vamos acrescentando um ao outro. Sem que nada falte ou sobre em nós. Como o mundo seria melhor se as pessoas não tomassem para si o que pertence aos outros. Não teríamos a fome, a injustiça, a opressão, o ódio. Mas o mundo ainda não é assim. Entendem por que lhes convido a fazer o que faço?
É no movimento de abrir mão de algumas coisas, para ganhar outras, é no conflito de valores e de normas que sou feliz. Não partilho das formas que algumas pessoas fizeram da sua vida. Não deixemos que se percam nossos sonhos e nossos ideais por pessoas mesquinhas que não querem devolver a nossa gratuidade. Siga, caminhe, lute, transforme, se arrisque. Acima de tudo confie porque a gratuidade do receber e do devolver não pertence às lógicas da razão, mas ao gesto divino que está humanizado em cada um de nós.